Cultivo exterior de cannabis em policultura
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Porquê cannabis em monocultura?
Por mais falta de espaço que um cultivo de exterior tenha, pode parecer um pouco absurdo cultivar um único produto. No cultivo de cannabis, por várias razões, é normal optar pela monocultura, desperdiçando a riqueza e as vantagens resultantes de integrar o cultivo de cannabis dentro de uma policultura de hortaliças, plantas aromáticas e flores.
As plantas de cannabis adaptam-se perfeitamente a cultivos hortícolas, quer sejam de caráter urbano ou rural. A partilha do espaço de cultivo com outros vegetais gera certos benefícios que podem ser proveitosos para a cannabis de diferentes formas.
Além da vantagem óbvia em termos de variedade de produtos que obtemos de uma policultura, se nos referirmos aos benefícios diretos sobre a cannabis cultivada em policultura, podem ter uma influência positiva em aspetos tão importantes como o controlo de pragas e doenças, a fertilização, a produção e a qualidade final da colheita.
Tudo isto sem esquecer outro aspeto muito importante que a policultura de cannabis oferece, que é a possibilidade de camuflagem das plantas de cannabis. A correta localização de umas plantas tão cobiçadas como as de cannabis dentro de uma combinação de vegetais pode ser o fator indispensável para que passem despercebidas. Se nesta combinação de vegetais também há plantas aromáticas, isso também pode ajudar por vezes a dissipar o indiscreto aroma da cannabis.
A alelopatia, as combinações de cultivos e a cannabis
Dentro do mundo vegetal, há plantas que têm as chamadas propriedades alelopáticas; estas plantas, através das raízes, folhas ou flores, libertam e exsudam essências ou fragrâncias que contêm compostos aleloquímicos.
Esses compostos bioquímicos chamados aleloquímicos produzem um fenómeno biológico chamado alelopatia, que é a relação simbiótica ou antagónica que se estabelece entre plantas do mesmo cultivo através dos referidos compostos bioquímicos.
Estes compostos aleloquímicos exercem influência sobre a cannabis e sobre o ecossistema imediato do cultivo, isto é, tem influência sobre as plantas do mesmo cultivo, na fauna que habita e rodeia o cultivo e nos microrganismos que vivem sob o solo de cultivo.
As suas influências sobre a flora e a fauna são variadas, podendo ter efeitos atraentes, repelentes, inibidores ou estimulantes. Plantas com propriedades alelopáticas podem ser hortaliças, ervas aromáticas, plantas medicinais, flores e algumas ervas daninhas.
Incluir variedades de cannabis numa boa associação de cultivos hortícolas juntamente com plantas aromáticas e flores pode ser uma excelente combinação, para além de ser uma opção de cultivo orgânico e ecológico na qual é fomentada a biodiversidade do ambiente em redor do cultivo.
Os argumentos a favor dos cultivos biológicos são inumeráveis, especialmente para os cultivos orgânicos de cannabis, os quais melhoram as propriedades organolépticas (aroma e sabor), e a qualidade do conteúdo geral da resina das plantas.
As combinações de cultivos e a alelopatia fazem parte das técnicas e aplicações compatíveis com cultivos sustentáveis e permacultura, nos quais o cultivo de cannabis se encaixa na perfeição.
Nestes cultivos, tenta-se que o desenvolvimento das plantas seja o mais natural possível, o que permitirá realizar uma nutrição e um controlo de pragas 100% ecológico. Como resultado, teremos produtos limpos, de melhor qualidade e amigos do ambiente. A cannabis, sendo ecológica, será sempre melhor.
Como integrar a cannabis em policultura
A introdução da cannabis em policultura deve ser efetuada da forma mais natural e lógica. A distribuição do cultivo deve respeitar a localização das outras plantas, todas as plantas devem ter espaço suficiente para se desenvolver e a exposição solar adequada. É necessário conseguir que os vegetais não se tapem nem se incomodem entre si.
É importante planear o espaço de cultivo corretamente, evitando o progressivo aumento de tamanho de todas as plantas da policultura.
A distribuição das plantas, especialmente das que estarão próximas da cannabis, pode ser configurada obedecendo a três critérios de associação de plantas: plantas acompanhantes ou afins, que são plantas benéficas para outras plantas no mesmo cultivo; plantas repelentes, são plantas que afugentam insetos nocivos para o cultivo; e plantas armadilha, que são plantas encarregadas de atrair insetos prejudiciais, afastando-os das plantas principais.
Plantas acompanhantes
As plantas chamadas acompanhantes ou afins são plantas que trazem benefícios para outras plantas, uma associação positiva entre vegetais que influi na fertilização do cultivo, no aroma e no sabor final das plantas. As plantas acompanhantes devem ser semeadas junto à cannabis para tirar partido dos seus efeitos.
Borragem: O seu cultivo proporciona e fixa vitaminas e minerais ao solo de cultivo, o que beneficia as plantas semeadas à sua volta. As suas folhas secas também podem ser utilizadas como cobertura ou mulching, o que é muito benéfico para as plantas de cannabis, graças à lenta dissolução do cálcio e do potássio que se concentram nas folhas secas da borragem.
Alfalfa e trevo: São dois excelentes exemplos de plantas fixadoras de nitrogénio, um nutriente essencial na fase de crescimento da cannabis. Mantêm o nível de nitrogénio no solo, para além de proporcionarem diversos minerais que ajudam a nutrir as plantas à sua volta. Em hortas ou jardins onde a cannabis é cultivada, ajudam a manter uma boa drenagem na terra, especialmente a alfalfa. O trevo é excelente como cobertura viva, para além de controlar o desenvolvimento de ervas invasoras.
Consolda: Esta planta, para além de ser bonita, é uma joia para qualquer cultivo. As suas raízes alcançam uma profundidade considerável e funcionam como um elevador para os nutrientes do subsolo, colocando-os à disposição das restantes plantas do cultivo. Por sua vez, esta ação de captar nutrientes de camadas profundas faz com que esta planta seja um grande acumulador dinâmico: as suas folhas contêm níveis muito elevados de potássio. Uma boa cobertura de folhas secas de consolda nas plantas de cannabis assegura a presença de potássio, um nutriente essencial e imprescindível na fase de floração da cannabis.
Plantas repelentes
Uma planta repelente é uma planta que costuma soltar algum aroma intenso que afugenta um ou vários insetos. Normalmente, estas plantas são colocadas no perímetro do cultivo, a modo de barreira protetora, ou perto de alguma planta em concreto, como a cannabis, para a proteger mais diretamente de insetos que possam ser nocivos. As plantas repelentes são um método eficaz para o controlo de pragas e doenças das plantas.
Manjericão: É uma planta aromática com múltiplos usos na cozinha, e no cultivo afugenta pulgões, mosquitos e a mosca branca. Cultivada junto das plantas de cannabis, ou até no mesmo vaso, segundo alguns cultivadores, melhora as propriedades organolépticas da erva.
Hortelã: Outra famosa planta aromática, muito presente em varandas, jardins e hortas, famosa pelo seu aroma intenso e pelas suas propriedades. A hortelã ajuda a afastar formigas, a mosca branca e baratas da cannabis. É fácil e gratificante de cultivar pelo seu crescimento vigoroso. É sempre melhor isolá-la, cultivando-a em vaso, pois é muito invasiva. O seu aroma intenso pode ajudar a atenuar o odor a cannabis.
Capuchinha: Planta ornamental procedente da América do Sul, muito disseminada por jardins e hortas. Ajuda a repelir e a afastar caracóis, formigas, mosca branca e pulgões das plantas principais. Plantando-a bem perto da cannabis, irá protegê-la e dar cor ao cultivo com os diferentes tons de vermelho, laranja e amarelo que a flor apresenta. As suas pétalas são comestíveis, sendo uma excelente fonte de vitamina C.
Camomila: A camomila é muito conhecida pelas suas propriedades como bebida de infusão. Plantada entre pés de cannabis, para além de enriquecer visualmente o cultivo com as suas flores, espanta a mosca branca e os nemátodos. Esta planta, ao decompor-se, liberta fósforo e potássio.
Plantas armadilha
A utilização de plantas ou cultivos armadilha é outro método de associação de plantas utilizado para a luta contra as pragas de insetos. Estas plantas encarregam-se de atrair insetos prejudiciais, afastando-os das plantas principais como a cannabis. Distribuem-se em redor do cultivo, ou perto e intercaladas entre as plantas sensíveis aos ataques. Uma vez localizada a praga no cultivo armadilha, é fácil eliminá-la. Outra função das plantas armadilha é dar abrigo a predadores de insetos nocivos para as plantas principais do cultivo.
Girassol: Por diversas razões, os girassóis são um grande aliado das plantas de cannabis. Atrai e afasta do cultivo os insetos nocivos para a cannabis, tais como pulgões e ácaros. Também capta insetos polinizadores, algo que é de agradecer, visto que muitos destes polinizadores são predadores de insetos prejudiciais para a cannabis, tais como o temido aranhiço-vermelho. A envergadura e as cores dos girassóis ajudam a camuflar as plantas de cannabis.
Tabaco: A planta do tabaco é uma das plantas armadilha por excelência, e nunca deveria faltar uma planta de tabaco em qualquer cultivo exterior de cannabis. O tabaco, com as suas folhas grandes cheias de tricomas e glândulas, captura insetos como a mosca branca e os pulgões, que são atraídos pela nicotina, ficam presos nas folhas e morrem. Com as suas folhas, através de um simples procedimento, é possível elaborar um inseticida ecológico eficaz. Dado o seu tamanho, também é uma boa opção para ajudar a ocultar as plantas de cannabis.
Arruda: É uma planta muito utilizada em horticultura como cultivo armadilha, pois o seu aroma e a sua cor confundem e atraem até ela os insetos prejudiciais para a cannabis, tais como moscas, pulgões, ácaros e lesmas. Também funciona como repelente com a mosca branca e com os gatos. A arruda é uma planta rústica que se adapta muito bem, não é exigente com os solos e apenas necessita rega e uma boa exposição solar.
Todas estas plantas são apenas exemplos das dádivas que a natureza nos oferece, e cujas aplicações em cultivos de cannabis deixamos de lado por desconhecimento.
Existem certamente muitos mais tipos de configurações de policulturas para integrar plantas de cannabis. Desde já, encorajamos os cultivadores de cannabis a investigar, pois é um tema muito amplo e, naturalmente, que deixem de lado as monoculturas, integrando diferentes vegetais para acompanhar a cannabis.
Boas e naturais policulturas!